Ponto de Vista
De Olho nas Metas e a formação dos professores
Por Esther Carvalho (texto publicado no Perfil Econômico | 10 de julho de 2015)
No início de julho foi lançada a sexta edição do relatório denominado “De Olho Nas Metas 2013-2014” pelo movimento Todos Pela Educação (TPE), que tem por objetivo contribuir para que, até o ano de 2022, o país assegure educação básica de qualidade à todas as crianças e jovens brasileiros. O documento apresenta indicadores sobre as cinco metas referentes ao acesso à educação, à alfabetização até os 8 anos de idade, à qualidade da aprendizagem, à conclusão do Ensino Médio e à eficiência dos gastos no setor educacional. Traz, ainda, estudos inéditos e artigos visando a subsidiar o debate e auxiliar na formulação de políticas públicas sobre: formação de professores, o corte etário para ingresso na Educação Básica, o Ensino Fundamental de 9 anos, o currículo do Ensino Médio e financiamento da Educação.
No que se refere à formação de professores, o artigo de Fernando Luiz Abrucio, professor e pesquisador do Programa de Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo da FGV-SP, traz as conclusões preliminares da pesquisa que está em andamento, denominada “Formação de Professores no Brasil: Diagnóstico, Agenda e Estratégias de Mudança.” O estudo, encomendado pelo TPE, está dividido em três partes: a primeira é a análise da bibliografia sobre o assunto; a segunda reúne entrevistas com os chamados atores educacionais, pessoas que, de alguma forma, em diferentes papéis, influenciam a política de formação inicial dos professores e a terceira parte, que está em andamento, visa, por meio de debates, a construir uma agenda prioritária, disseminar transformações e propor estratégias possíveis de mudança.
A análise bibliográfica sobre a formação de professores priorizou estudos sobre a realidade nacional e experiências internacionais. Constatou-se que não existe um campo de estudo que reúna a formação acadêmica inicial e a profissionalização posterior, assim como a trajetória da carreira e o impacto da prática do professor na aprendizagem do aluno. Outro aspecto importante é que, embora nos últimos vinte anos tenha crescido no mundo a literatura sobre os métodos de ensino e seus resultados em sala de aula, no Brasil identifica-se poucos estudos nessa área. O lugar secundário que a metodologia de ensino tem na produção acadêmica brasileira revela sua menor importância nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia e licenciatura. Além disso, identificou-se que há poucos estudos sobre o impacto da universidade na trajetória profissional de seus egressos.
As entrevistas em profundidade com atores educacionais, como especialistas, gestores públicos e profissionais da escola, sinalizam a falta de articulação no chamado tripé da formação inicial: as universidades, as redes de ensino e as escolas. Para superar esse desafio, destaca-se a necessidade das universidades garantirem o chamado conhecimento didático do professor, que reúne o conteúdo das disciplinas, a prática e as metodologias de ensino, assim como as habilidades e competências do educador. Gestão do tempo e do espaço na sala de aula, capacidade de relacionar-se com diferentes perfis etários e outros componentes sociais; mediação dos conflitos; trabalho em equipe; consciência do papel da escola e do docente no envolvimento da comunidade e das famílias em prol do aprendizado e motivação dos alunos são as principais competências destacadas em estudos internacionais.
O modelo do curso de formação de professores deve considerar o perfil do aluno ingressante nos cursos de Pedagogia e licenciatura, assim como a definição do que deve ser ensinado aos alunos nas escolas, ou seja, uma Base Curricular Nacional comum. Os estágios nas escolas devem ser repensados como um todo, pois não atendem as necessidades de formação dos professores. Há consenso entre os entrevistados quanto à importância de se implementar a residência pedagógica. Concebida aos moldes da residência médica, exigiria a dedicação integral dos estudantes e a articulação efetiva entre universidades e escolas básicas, assim como da tutoria ou mentoria, aproveitando-se, inclusive, os professores mais experientes.
A atratividade da carreira docente é um elemento fundamental nas políticas públicas para melhorar a qualidade da Educação. Não se restringindo à questões salariais, há que se assegurar e valorizar a formação continuada e a promoção por desempenho, dentre outros aspectos. O professor precisa sentir-se evoluindo em sua profissão dentro da sala de aula e não quando ele sai dela e passa a ter outras funções na escola.
O atingimento das metas definidas pelo movimento Todos Pela Educação passa, necessariamente, pela valorização, formação e qualificação da carreira docente. Nesse sentido, urge que políticas públicas tratem os professores com respeito, proporcionem aos mesmos condições de trabalho e desenvolvimento profissional e, simultaneamente, gerem demandas rigorosas e consistentes de melhoria do trabalho em sala de aula.
Nossas crianças e jovens agradecem. Nosso país também.
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco