Ponto de Vista

2015 – Educação para o século XXI?

Por Esther Carvalho (texto publicado no Perfil Econômico | 8 de fevereiro de 2015)

Quando, em 1996, foi publicado o relatório da Unesco, elaborado pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, presidida por Jacques Delors com o nome Educação para o Século XXI: um tesouro a descobrir, já se identificava que a escola precisava ser repensada e alinhar-se a novos tempos. Devia propor uma formação do indivíduo e do cidadão baseada em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser.

Nesses quase vinte anos da publicação do relatório, o contexto de rápidas e complexas mudanças trouxe novos significados, perspectivas e muitos desafios a educar segundo esses quatro princípios basilares.O desenvolvimento de tecnologias da comunicação e da informação criou novas formas de conhecer, de aprender, de conviver e de ser. Terminologias como Ensino Híbrido (Blended Learning); Sala de Aula Invertida (Flipped Class); Cursos distribuídos gratuitamente, por plataformas Online, denominados MOOCs (do inglês Massive Online Open Courses): nanocertificados (nano degrees), dentre tantas outras, foram incorporadas ao cenário social e educacional.

A produção de conhecimento humano teve sua capacidade infinitamente ampliada pelo desenvolvimento tecnológico. Mais do que nunca, a escola precisa repensar o que, por que ensinar, para que e como ensinar suas novas gerações.

Aprender a fazer, mobilizar os conhecimentos aprendidos para compreender e intervir na realidade, perceber e criar novas oportunidades passam pelo desenvolvimento de competências cognitivas, como reflexão, conceituação, conexão de informações, interpretação e de competências socioemocionais, que são aquelas ligadas a padrões de comportamento e sentimentos como determinação, colaboração, autocontrole, curiosidade, sociabilidade, protagonismo, controle emocional, otimismo, dentre outras.

Aprender a viver com os outros, num mundo interconectado, em que experiências cotidianas locais, presenciais, misturam-se com o espaço virtual, globalizado, traz a necessidade de desenvolver-se, também, a chamada cidadania digital, elemento fundamental da formação de crianças e jovens. Princípios éticos e da boa convivência são ampliados a novas experiências de identidade, privacidade, autoria, credibilidade e participação no mundo virtual.

Aprender a ser, por sua vez, envolve as aprendizagens acima citadas e traz, no atual contexto, tênues e frágeis fronteiras entre o público e o privado. A superexposição dos indivíduos nas redes sociais, o chamado jeito Facebook ou jeito Instagram de ser são alguns dos fenômenos relativamente recentes, com os quais a sociedade e a escola lidam.

O papel da escola, assim como o papel do professor, são, diretamente, impactados por essas demandas do mundo contemporâneo. Entretanto, sua capacidade de se reinventar, de se projetar no seu tempo está numa velocidade aquém daquela necessária. Já se passaram quinze anos do século XXI e ainda lidamos com a quebra de paradigmas de uma educação que já não tem mais sentido. Temos que trabalhar muito e rapidamente para que as salas de aula, presenciais e virtuais, acompanhem as necessidades e os anseios das novas gerações. O grande problema é que o tempo não volta para essas crianças e jovens que estão, hoje, nos bancos escolares. Deve ser estabelecido o devido senso de urgência quanto às mudanças na formulação e implementação das políticas públicas, na sinergia entre sistemas de ensino, nas escolas, nos gestores, nos professores, nas famílias, nos alunos e na sociedade como um todo. O século XXI já começou há muito tempo; a educação alinhada a ele ainda não.

 

Ponto de Vista
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco