Ponto de Vista

Educação de futuro

Por Esther Carvalho (texto publicado no Perfil Econômico | 25 de abril de 2014)

Educar para as Competências do Século XXI foi o tema do Fórum Internacional de Políticas Públicas, ocorrido em São Paulo, nos dias 24 e 25 de março. O evento foi promovido pelo Instituto Ayrton Senna, em parceria com a OECD, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Ministério de Educação do Brasil (MEC) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira (Inep) e reuniu Ministros da Educação de diversos países, pesquisadores, formuladores de políticas públicas, lideranças do setor e especialistas. Teve como foco as chamadas competências não cognitivas que precisam ser aprendidas, desenvolvidas e mensuradas para gerar cidadãos plenos e produtivos.

Competências não cognitivas, também conhecidas como socioemocionais ou competências de personalidade são aquelas ligadas a padrões de comportamento e sentimento como determinação, colaboração, autocontrole, curiosidade, sociabilidade, protagonismo, controle emocional, otimismo, dentre outras. Essas têm grande impacto na vida presente e futura de nossas crianças e jovens. Precisam ser tratadas com o mesmo rigor e status de importância que se dá às chamadas competências cognitivas como interpretação, reflexão, conceituação, conexão de informações, rapidez no processamento de informações, etc.

Segundo James Heckman, prêmio Nobel de Economia em 2000, um dos participantes do debate, nos últimos 50 anos os sistemas educacionais se voltaram para a realização de testes de desempenho padronizados, procurando mensurar conhecimento e, de certa forma, negligenciando as chamadas competências de personalidade.

Para Heckman, a crença de que características de personalidade não se mudam e são geneticamente determinadas é uma visão ultrapassada. Elas mudam, podem ser moldadas, mensuradas e seu desenvolvimento pode representar um novo enfoque em termos de políticas públicas para melhorar as oportunidades para todos e moldar vidas bem sucedidas e prósperas.

Na mesma linha de raciocínio está o jornalista americano, Paul Tough, autor do livro traduzido no Brasil pela editora Intrínseca, sob o título: Uma Questão de Caráter. Porque a curiosidade e a determinação podem ser mais importantes que a inteligência para uma educação de sucesso. Tough destaca a supervalorização que se dá para os testes de desempenho ou testes de QI (Quociente de Inteligência), embora se saiba que notas altas não signifiquem, necessariamente, sucesso na continuidade da escolarização ou na vida adulta.

Pesquisas são necessárias para se analisar, com propriedade, quais são as competências que efetivamente impactam no sucesso acadêmico e profissional de indivíduos e no bem-estar coletivo em esferas como, por exemplo renda, saúde e cidadania. Outra perspectiva fundamental é identificar quais os contextos de aprendizagem nos quais essas habilidades podem ser desenvolvidas. Nesse sentido, destaca-se o estudo longitudinal de competências cognitivas e socioemocionais que está sendo conduzido pelo Centre for Educational Research and Innovation (CERI-OCDE), com a colaboração do Instituto Ayrton Senna e deve estar concluído em 2016. Esse estudo faz parte de um projeto mais amplo, denominado Education and Social Progress, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

No Brasil, foi firmado protocolo de intenções entre o Ministério da Educação (MEC), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal e Nível Superior (Capes) e o Instituto Ayrton Senna para a criação de programa de bolsas envolvendo pesquisadores e professores em pesquisas sobre o desenvolvimento de competências não cognitivas no ensino. O objetivo dessa parceria é, segundo Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, de se formar massa crítica no país quanto ao tema, favorecendo, assim, que os benefícios desses estudos cheguem às salas de aula.

Escola, família e comunidade devem, apoiadas por políticas públicas coerentes e consistentes, proporcionar experiências que favoreçam a formação de cidadãos dotados de competências que vão além de interpretar, refletir e extrapolar o conhecimento adquirido. A esse repertório devem ser somadas as competências socioemocionais para que, nas palavras de James Heckmanm, possamos dar às nossas crianças a oportunidade de ser o que quiserem ser e o melhor que puderem ser. Essa é uma educação de futuro.

 

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Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco