Ponto de Vista
Qualidade em educação: um desafio possível
Por Esther Carvalho
Sendo o Brasil um país de dimensões continentais, ele certamente apresenta desafios em relação à escala de seu sistema educacional. Quase vencida a questão da universalidade no ensino básico, ou seja, do acesso à escola, nos deparamos com o problema da qualidade. Nesse sentido, em termos de políticas públicas, boas iniciativas devem ser divulgadas, pois demonstram que é possível fazer diferente e melhor. Um desses exemplos é o do município do Rio de Janeiro, liderado pela Secretária de Educação, Cláudia Costin.
Liderando a secretaria desde 2009, Cláudia tem imprimido à educação do básica do Rio de Janeiro um ritmo e um pragmatismo tal que tem trazido resultados significativos em termos de qualidade.
O primeiro aspecto que cabe destacar é a decisão, desde o início de sua atuação, de ter ao seu lado pessoas chaves na área educacional, priorizando aspectos técnicos sobre políticos. Essa decisão deu-lhe condições de produzir iniciativas consistentes advindas de equipes conhecedoras da área e da realidade do município.
Outro elemento que é freqüentemente mencionado por Cláudia em suas apresentações é que o foco de sua atuação, sua energia e seus recursos são na aprendizagem do aluno. Isso não quer dizer que infra-estrutura não seja importante, mas em tendo que gerenciar recursos e prioridades, sem dúvida a Secretária não abre mão de que os alunos aprendam mais e melhor.
Mais dinheiro e incentivo em áreas de maior vulnerabilidade social é um outro elemento que tem feito diferença na vida das crianças, por meio da destinação de mais recursos, seja em projetos, seja na valorização dos profissionais que atuam em áreas chamadas conflagradas. O projeto Escolas do Amanhã, que atinge 155 escolas, por exemplo, segue essa lógica. Com o objetivo de reduzir a evasão escolar e melhorar a aprendizagem dos alunos, o programa trabalha com a promoção de uma cultura baseada em valores e com o cuidado do ambiente físico, acadêmico e social das escolas. O conjunto de atividades implementadas já surte efeito, com queda de 37,6% do índice de evasão escolar entre 2008 e 2011 -- a média da rede municipal para o mesmo período foi de 11,1%.
Alfabetização na idade certa é outra característica do sistema que hoje utiliza avaliação externa ao final do primeiro ano do Ensino Fundamental para aferir e regular as ações do governo nesse sentido. Essa decisão impacta, diretamente, na queda do índice de analfabetismo e analfabetismo funcional e dá aos jovens cidadãos mais condições de sucesso em suas vidas pessoal e profissional. Dados do final de 2012 mostram que 90% dos alunos da rede encontram-se alfabetizados após cursarem o primeiro ano. Além disso, o índice de analfabetos funcionais caiu de 14% para 4,1%. Esses resultados são excelentes, considerando o fato de que o Rio de Janeiro, assim como São Paulo, é uma cidade que recebe muitos migrantes, que trazem diferentes repertórios e experiências educacionais.
O fim da progressão continuada também foi outra decisão que trouxe novos olhares para o sistema e maior efetividade nas ações de reforço escolar e suporte aos alunos e professores. Mais reforço aos mais necessitados passou a ser uma ação contínua para que se vença a repetência. E os alunos não dão mais continuidade no sistema sem terem condições adequadas para prosseguir.
Currículo único para todo o município, com claras expectativas de aprendizagem para cada série têm proporcionado referências importantes para o sistema como um todo, para as escolas e seus educadores. Consistente suporte pedagógico, seja em conteúdos seja em metodologia, é disponibilizado por meio de um portal educacional, a Educopédia (www.educopedia.org.br), que oferece formação continuada e conteúdos em diferentes mídias para o uso de professores, alunos e pais. Esse portal, desenvolvido em parceria com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), tem a autoria dos professores da rede e é um recurso aberto, não restrito aos alunos da rede mas que pode ser utilizado por qualquer pessoa. Segundo a secretária, 76% dos professores do sexto ao nono ano utilizam esses recursos.
Recentemente, a secretária de educação enfrentou uma greve de professores que, entre outras reinvindicações, não concordavam com o plano de carreira docente recém aprovado. Valorizar o bom profissional é uma necessidade para que se possa diferenciar aqueles que, de fato, se dedicam à sua profissão, investem no seu desenvolvimento profissional e adquirem senioridade no seu trabalho. Outro aspecto importante é fazer com que o professor se dedique a uma única instituição, com regime de 40 horas semanais na escolas, de maneira que possa estabelecer vínculos e comprometimentos com a instituição, com seus alunos e com a comunidade escolar.
O Brasil é a sétima economia mundial e, no entanto, em termo educacionais, encontra-se em 53o lugar no PISA, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. A qualidade de nosso sistema educacional reflete diretamente nas condições de competitividade e de empregabilidade de nossos brasileiros, seja no contexto local, seja no contexto global. O que a Secretária nos mostra, num sistema complexo como o do município do Rio de Janeiro, é que com coragem e foco no que é importante, ou seja, na aprendizagem dos alunos, é possível mudar a educação do nosso país. Vamos torcer para que muitos governantes se inspirem nessa iniciativa e encontrem seu caminho para proporcionar educação de qualidade para o povo brasileiro. Nossas crianças, nossos jovens e nosso país agradecem.
Esther Carvalho
Diretora-Geral do Colégio Rio Branco