Dia Mundial da Educação
Sonia Leites, professora de Língua Inglesa
Nunca gostei da ideia de relacionar a carreira de professor a sacerdócio. Professor é um profissional altamente qualificado e que deve ser valorizado como tal. No entanto, há uma relação humana e afetiva envolvida na nossa formação e experiência diária que não pode ser negada.
Pela escola ser provavelmente o segundo grupo social que uma criança frequenta, nós, professores, somos uma espécie de segunda família para essa criança. Não somos os responsáveis diretos pela sua formação moral, mas inegavelmente fazemos parte dessa construção.
No meu dia a dia, como professora de adolescentes, sinto neles a necessidade de serem acolhidos, elogiados, ouvidos, orientados, pois, muitas vezes, as pressões externas e internas os levam a desenvolver ansiedade, insegurança, falta de autoconfiança.
Diante desse cenário, insiro nas minhas aulas de inglês oportunidades de falarmos sobre a necessidade da auto-aceitação, do autoconhecimento, do otimismo, da esperança, da persistência, do estabelecimento de metas e estratégias na busca de sua concretização e, acima de tudo, de sua felicidade.
Lembro-me de uma dessas aulas, partindo da compreensão de um texto e expandindo-o para o dia a dia dos alunos, especialmente dos vestibulandos. Queria que eles refletissem a respeito do que os faria felizes e de como podemos conseguir tudo o que queremos se nos prepararmos para isso. Perguntei-lhes “What do you want?” (O que vocês querem?). Pedi para que fizessem o exercício de buscar dentro de si a resposta. Insisti que eles deveriam realmente definir o que eles queriam alcançar para se sentirem confortáveis, felizes, realizados. Na sequência lhes perguntei “What stops you?” (O que os impede?). Depois de alguns segundos, ratifiquei que nada, nem ninguém, os impediria de alcançar o que desejassem; tudo do que eles precisam seria do estabelecimento de estratégias que os levassem a atingir seus objetivos na vida.
Depois de alguns dias, uma aluna da 3a série do Ensino Médio, nadadora de um grande clube de São Paulo, veio me dizer que havia tido uma competição no fim de semana após aquela aula e que, quando saltou na piscina após o tiro da largada, só ouvia minha voz perguntando “What stops you?”. Ela me disse que se concentrou em alcançar sua meta, em se classificar para as seletivas para um grande evento esportivo e que sentiu que nada a impediria de ganhar. Ela se consagrou vencedora, atingindo seu objetivo e veio me agradecer. Lembro-me de chorar muito, especialmente emocionada de fazer parte daquela conquista. Esse é o grande mérito do nosso trabalho - tocar-lhes o coração, a alma, o seu interior e mostrar-lhes que são capazes.
Costumo dizer que passamos por incertezas, trabalho árduo, finais de semana consumidos por correções de provas e elaboração de trabalhos e aulas, algumas caras amarradas, um descaso aqui ou ali, falta de reconhecimento, mas quando vemos que o que falamos fez de fato sentido para um(a) aluno(a), volto a lembrar de que estou no caminho certo, de que estou participando de algo grandioso na formação de uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais solidária, mais companheira, mais tolerante e altruísta.
Obrigada, meus alunos, por me enriquecerem diariamente com suas histórias, seus sorrisos, seus desejos de melhorarem o mundo. Façam a diferença sempre!