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Acompanhar a rotina dos filhos, abrir espaço para o diálogo e estimular a empatia e o respeito são exemplos de ações que pais e responsáveis podem adotar
O bullying pode ser definido, segundo a Lei nº 13.185/2015, como “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo, que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.”
O fenômeno representa um grave problema no ambiente escolar, atingindo 6,7 milhões de estudantes brasileiros anualmente, de acordo com pesquisa do DataSenado, realizada em 2023. Além de atos de violência, ele pode se manifestar por meio de insultos, intimidações, apelidos, gozações, acusações etc. “Atitudes hostis, intolerantes e intoleráveis, que geram sofrimento emocional, cognitivo e até mesmo físico”, aponta Juliana Góis, orientadora educacional de apoio à aprendizagem da Unidade Higienópolis do Colégio Rio Branco.
Segundo ela, a duração e a regularidade dessas ações contribuem de maneira significativa para o agravamento dos seus efeitos, podendo até mesmo levar a transtornos psiquiátricos, como quadros de depressão e sintomas de ansiedade. “Isso reforça a importância de estarmos atentos aos sinais e agirmos de forma rápida e assertiva a fim de resolver a situação”, afirma a orientadora. A prevenção e o combate a esse tipo de violência deve ser feito em conjunto entre escola e responsáveis, considerando a vítima, o agressor e as testemunhas.
O papel das famílias
Crianças e adolescentes precisam de atenção, cuidados, modelos de comportamento adequados e um ambiente acolhedor e saudável para se desenvolverem de forma plena. Para Juliana, é de grande importância a presença dos pais na rotina dos filhos e a consciência de que o seu próprio comportamento é uma das principais referências na formação das crianças.
Ela sugere que os pais reflitam sobre sua postura, se o discurso é coerente com as ações, se costumam agir de maneira tolerante ou rígida demais e como estimulam habilidades como empatia e respeito -- valores essenciais que precisam ser ensinados, aprendidos e vivenciados. “Também é imprescindível estar atento ao próprio comportamento, bem como ao do seu filho, assim como manter um diálogo aberto e fluente com eles, sem tabus ou constrangimentos.”
Juliana indica outras atitudes que as famílias podem adotar:
- Converse: aborde diferentes temas e acompanhe o que acontece com seu filho, para estreitar os laços afetivos.
- Elogie e apoie: demonstre sentimentos positivos e busque compreender a criança, sem deixar de estabelecer limites. O apoio contribui para o desenvolvimento emocional saudável.
- Acompanhe: observe como a criança se sente diante dos seus afazeres e como interage em diferentes contextos.
- Monitore o ambiente digital: esteja atento aos conteúdos que a criança ou adolescente acessa e compartilha nas redes sociais.
- Busque conhecimento: informações incorretas ou simplistas se multiplicam em alta velocidade. Entender sobre bullying é essencial para identificar e intervir em situações de violência.
Sinais de quem sofre bullying
Os pais também devem estar atentos a alguns sinais relacionados ao bullying. Muitas vítimas têm dificuldade de expressar seus sentimentos sobre o acontecimento, assumindo culpa por não se enquadrar no que entende ser um padrão necessário e obrigatório.
“Quando a vítima é uma criança, é preciso que os adultos que a acompanham tenham a sensibilidade de perceber pequenas alterações comportamentais, além de estimulá-la a compartilhar tanto a situação vivenciada quanto os sentimentos que ela desperta”, destaca Juliana. “Isso pode ser feito por meio do diálogo, da arte, da escrita, de leituras ou mesmo por meio de brincadeiras.”
Entre os principais sinais que podem ser observados, ela cita:
- Introspecção: as vítimas podem se tornar mais quietas e introspectivas devido ao medo. O silêncio pode estar ligado ao receio de que as agressões piorem ou se tornem mais frequentes. Em alguns casos, podem surgir sintomas de ansiedade e depressão.
- Baixa autoconfiança: agressões recorrentes podem impactar negativamente a autoestima e gerar insegurança diante de atividades cotidianas, além de desinteresse por coisas que antes eram prazerosas.
- Frequência irregular nas aulas: por medo do agressor, a criança pode evitar a escola e inventar desculpas, como estar com dor de cabeça ou dor de barriga.
- Sinais físicos de agressão: hematomas, arranhões, roupas rasgadas ou qualquer outro sinal de violência podem indicar bullying físico.
- Queda no desempenho escolar: dificuldades de concentração, baixa autoestima e sintomas emocionais podem comprometer o aprendizado e o rendimento escolar.
Sinais de quem pratica o bullying
A orientadora também ressalta a importância de olhar com zelo para aqueles que cometem as agressões, para buscar compreender o que desencadeia esse tipo de comportamento. “Pode haver uma distorção de pensamento, e a agressividade ser vista como qualidade, ou tratar-se de um indivíduo com questões psíquicas específicas ou mesmo histórico de agressões.”
Ela salienta alguns pontos para pais e responsáveis ficarem atentos:
- Comportamentos hostis: tendência a querer demonstrar autoridade sobre colegas e, em alguns casos, desrespeito aos pais e professores. Isso pode indicar falhas no desenvolvimento de habilidades sociais, como empatia e respeito.
- Mentiras frequentes: a criança pode omitir ou distorcer informações para evitar ser responsabilizada por suas ações.
- Omissão de informações: evitam que os pais tenham acesso aos conteúdos que acessa ou publica na internet.
Família e escola: parceria que faz diferença
Juliana reforça que, para evitar e combater os casos de bullying no ambiente escolar, a parceria entre família e escola é essencial.
“Acreditamos que é nosso dever propiciar um ambiente saudável e que a melhor forma de agir é a prevenção. Na receita da boa convivência, colocamos o respeito às diferenças, bem como o fortalecimento do vínculo entre a família e a escola como ingredientes essenciais”, afirma. “O diálogo favorece uma comunicação aberta e sincera. E, por meio da confiança, ambos, pais e educadores, conseguem se apropriar dos acontecimentos e, quando necessário, atuar sobre eles.”
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